Blog do Matehackers

Grupo de Privacidade começa com Cypherpunks

O grupo de estudo sobre privacidade começou!!! Agora em Outubro vamos ler o livro Cypherpunks: Liberdade e o futuro da internet de Julian Assange. Temos um canal do grupo na matrix para compartilhar o que estamos pensando sobre os livros e os demais assuntos relacionados a criptografia, softwares, alternativas, aprendizados e boas práticas para privacidade.

No final do mês vamos fazer um encontro virtual para conversar sobre o livro e escolher a nova leitura.

Cypherpunks: Liberdade e o futuro da internet de Julian Assange

Cypherpunks

Cypherpunks são indivíduos que defendem o uso generalizado de criptografia e tecnologias em prol da privacidade. Sua máxima é “privacidade para os fracos, transparência para os poderosos”.

O livro foi escrito junto com renomados desenvolvedores, Jérémie Zimmermann (Engenheiro da computação e co-fundador da La Quadrature du Net), Jacob Appelbaum (Desenvolvedor do The Tor Project) e Andy Müller-Maguhn (Membro do Chaos Computer Club) que buscam discutir se o mundo digital vai nos emancipar ou escravizar.

Entre os tópicos estão: Como Google e Facebook constituem “a maior máquina de vigilância que já existiu”, questiona se somos vítimas ou colaboradores dessa vigilância, se existem formas legítimas de vigilância, e se temos condições de resistir através da ação consciente e conhecimento tecnológico em prol da liberdade ou se a internet será transformada no mais perigoso facilitador de totalitarismo que já vimos. O livro originalmente seria intitulado “Manual da Rebelião: como somos vigiados pela Internet”.

Julian Assange

Participante ativo da lista cypherpunks e do movimento cypherpunk desde sua concepção nos anos 80. Assange estudou programação, matemática e física na Central Queensland University e na University of Melbourne, na Austrália. Segundo a wiki em inglês (tradução livre):

Em 1993, Assange usou suas habilidades de computação para ajudar a Unidade de Exploração Infantil da Polícia de Victoria a processar indivíduos responsáveis pela publicação e distribuição de pornografia infantil 48 49. No mesmo ano, ele participou da construção de um dos primeiros provedores públicos de serviços de Internet na Austrália, Suburbia Public Access Network. Ele começou a programar em 1994, teve autoria ou coautoria no scanner de porta TCP Strobe (1995), em patches para o banco de dados PostgreSQL (1996), no software de cache Usenet NNTPCache (1996), no sistema de criptografia negável Rubberhose (1997) (que refletiu seu crescente interesse em criptografia), e Surfraw, uma interface de linha de comando para mecanismos de pesquisa baseados na Web (2000). Durante esse período, ele também moderava o fórum AUCRYPTO, manteve o Best of Security, um site “dando conselhos sobre segurança de computadores” que tinha 5.000 assinantes em 1996, e contribuiu com pesquisas para Suelette Dreyfus’s Underground (1997), um livro sobre hackers australianos, incluindo os International Subversives. Em 1998, co-fundou a empresa Earthmen Technology

Assange também foi o visionário por trás do WikiLeaks, que tinha como objetivo manter um canal totalmente seguro para envio de documentos, que fosse não apenas inviolável a ataques, mas que apagasse toda informação sobre a sua origem. Isso permitiria “whistleblowers” denunciarem violações por parte de governos e empresas sem medo. Foi muito criticado por ser egocêntrico, foi acusado pela extrema direita de filtrar e privilegiar pautas da esquerda (rly). Segundo a Wiki: “Em novembro de 2010, a Suécia emitiu um mandado de prisão internacional contra Assange. Ele havia sido interrogado, três meses antes, sob suspeita de agressão e estupro contra uma mulher no país, sendo essa acusação posteriormente arquivada pela justiça sueca. Assange negou as acusações e afirmou que, caso ele fosse preso em território sueco, ele seria extraditado para os Estados Unidos por ter publicado os documentos do governo americano.”

Também escreveu os livros “Underground: Tales of hacking, madness and obsession on the electronic frontier”, “When Google Met WikiLeaks”, “The WikiLeaks Files: The World According to US Empire” e “Hillary Clinton: The Goldman Sachs Speeches”.

Contexto do Livro, WikiLeaks, SOPA e ACTA e o Brasil

O livro foi lançado logo após o auge dos vazamentos divulgados pelo WikiLeaks, em meio as discussões de leis como SOPA e ACTA, enquanto Assange era ferozmente perseguido pelo governo dos EUA. Nesse período o WikiLeaks foi criticado pelas parcerias com grupos de mídia que concentram a produção e disseminação da informação (mídia tradicional), ponto rebatido já na apresentação do livro em sua versão em português pela jornalista Natalia Viana. Assange sempre buscou expandir a quantidade de veículos jornalísticos que receberam o material dos vazamentos. Ele considerava o Brasil um país estratégico, que precisava ser contemplado já na primeira leva. Além do compartilhamento do material com os jornais, eram escritas reportagens para o site WikiLeaks, sob a licença creative commons, com disseminação livre.

No livro Assange disseca as limitações com as quais teve contato na produção de jornalismo no Ocidente, que segundo ele vive um tipo de censura sofisticada. Graças a jornalistas independentes, algumas matérias sobre documentos que não foram veiculados pela imprensa tradicional tiveram bastante disseminação. Um dos exemplos foi o documento que ficou conhecido como “A lista de compras do Império”, que dissecava interesses estratégicos norte-americanos em todo mundo, desde gasodutos na Rússia até minérios de ferro e nióbio no Brasil. Outro exemplo é o texto “Meu amigo Jobim”, publicado no site do WikiLeaks, que mostra como o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim manteve diversas reuniões com o embaixador norte-americano e revelava como a administração de George W. Bush usava a estratégia de manter contatos estreitos com Jobim para contrabalancear a postura independente da política externa brasileira, chamando-o de “incomumente ativista” em defesa dos interesses norte-americanos. Limitar as divulgações aos conglomerados de alcance nacional - Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo - era uma preocupação. Para ter uma noção da situação brasileira em relação a mídia, basta a citação do livro: “… a concentração histórica da mídia no Brasil, onde cinco empresas, pertencente a seis famílias, controlam 70% de todos os meios de comunicação”.

Atualidade

Assange segue confinado em uma prisão de segurança máxima em Londres, acusado de conspiração para realizar invasão de computadores. Essa prisão é conhecida como a Guantánamo Britânica e Julian fica preso em uma cela sem janelas, 23h por dia, com quase nenhuma visita aprovada, seus advogados devem escrever para ele ou então usar um telefone de corredor para se comunicar, não pode usar computador ou adquirir materiais para sua própria defesa. 1

Recentemente jornalistas divulgaram como os EUA chegaram a planejar o assassinato de Assange durante o governo de Trump e sob o comando do diretor da CIA Mike Pompeo 2 4. Depois de mais de uma década dos vazamentos de informações secretas sobre a guerra do Afeganistão e do Iraque (2010), momento em que Assange e a WikiLeaks passaram a ser perseguidos pelos EUA, Biden é pressionado para retirar as acusações contra Assange. Ao mesmo tempo, 20 anos depois do ataque de Osama Bin Laden às torres gêmeas, os EUA arrumaram as malas e abandonaram o seu conflito mais longo e caro da História. O Talebã voltou imediatamente a controlar o Afeganistão*.

Ainda esse ano ocorreu um grande vazamento, o Pandora Papers foi vazado através do ICIJ (International Consortium of Investigative Journalists). O ICIJ compartilhou o material com os mesmos grupos jornalísticos que o WikiLeaks fez no passado: The Guardian, BBC Panorama, Le Monde e The Washington Post. Antes disso, outro grande vazamento foi o Panamá Papers, também pelo ICIJ.

Compartilhe no grupo ou com seu circulo de amizades

Privacidade é um assunto muito importante para nossa família, amigos e sociedade. Incentivamos você a compartilhar de alguma forma o que te motiva e o que você está aprendendo.

Para apoiadores

Adicionaremos alguns recursos na pasta de arquivos que é enviada para os apoiadores através do Apoia.se, se você ainda não era apoiador, as publicações ficam no mural para acesso a qualquer momento.


Agradecimento aos apoiadores do matehackers

Agradecimento especial a todos apoiadores da nossa campanha de financiamento: Ricardo Perufo Mello, Márcio Zago Andrade, Marina Anderle Giongo, Sheila Uberti, Lucas Mizusaki, Mário Sérgio, Daniel, Herberson Silva Miranda, Thiago Couto, Pedro Felipe Vergo Scheffer, Alan Ficagna, Gui PK e Yuri Trindade Minar.

💎Quer apoiar financeiramente? Clica aqui.

Para saber mais

  • [1] https://www.strategic-culture.org/news/2021/08/12/wikileaks-julian-assange-and-free-press-setback/
  • [2] https://news.yahoo.com/kidnapping-assassination-and-a-london-shoot-out-inside-the-ci-as-secret-war-plans-against-wiki-leaks-090057786.html
  • [3] https://defend.wikileaks.org/about-julian/
  • [4] https://freedom.press/news/after-shocking-story-about-cia-illegal-acts-biden-admin-must-drop-assange-charges-immediately/
  • [5] https://freedom.press/